sábado, fevereiro 04, 2006

Para memória futura (I) – Portugal político na abertura do Moleskine

Duas semanas passaram sobre as eleições presidenciais mas ainda se fazem rescaldos e antecipam-se as jogadas no xadrez político nacional.

Jorge Sampaio, Presidente da República em funções, recebeu no Palácio de Belém Cavaco Silva, Presidente eleito, para um “tranquila transferência de poderes”. É possível um novo encontro entre ambos, mas para isso Sampaio terá de condecorar Cavaco.
Cavaco promete um “espírito leal, de respeito, de cooperação e entreajuda”. Nós, por cá, ficamos a assistir como vai, desde Belém, recuperar a economia e o ânimo dos portugueses.

Alegre não sabe o que fazer com um milhão de votos. Sabe que não lhe vão servir de nada para tomar de assalto o PS, sabe que criar um novo partido seria ridículo… provavelmente saberá estar quieto no seu canto na Assembleia e, com o “Poder dos Cidadãos” a massajar-lhe o ego… intacto e nos píncaros.

Soares promete que o seu “empenhamento cívico ao serviço de Portugal será total, como sempre foi”. Soares já não é fixe, todos o sabemos e todos já o sabíamos antes das eleições. É pena uma figura como ele acabar a carreira política com uma derrota, mas uma derrota que não apagará o seu peso na História recente de Portugal.

Jerónimo de Sousa foi a surpresa das eleições. Não pela posição em que ficou, ou pelas ideias que apresentou mas pela simpatia demonstrada durante a campanha. Podia dar aulas prácticas aos seus carrancudos camaradas do Comité Central…

Francisco Louçã teve azar e o único que foi realmente prejudicado com a presença de dois candidatos socialistas, ou melhor, com a de Alegre. O voto contra o sistema e contra o governo foi, nestas eleições, o voto no “Manel das Estátuas”. Muitas das pessoas que votaram BE nas legislativas votaram, certamente, Alegre nas presidenciais. Azar para Louçã.

Não há notícias sobre Garcia Pereira.

No PS não vai haver “ajustes de contas”… com Alegre, diz Sócrates. Mas vamos ver o tempo que demorará a pedirem contas a Sócrates depois das derrotas nas autárquicas e da estratégia “espero por Guterres, espero por Vitorino, incentivo Alegre, apoio Soares” para as presidenciais. É que, dizem as más línguas, faltam um milhão de votos…

No PSD, Marques Mendes anda feliz e contente, nos seus saltos altos, em cima de um escadote a dizer que é o maior. Mas a verdade é que nem os saltos altos (vitória nas autárquicas), nem o escadote (vitória de Cavaco) são realmente dele. Especialmente nesta última que nem sequer o deixaram falar durante a campanha eleitoral. Por enquanto deixam-no surfar como quer mas, até às próximas eleições, daqui a 3 anos, veremos o que fazem Luís Filipe Menezes e António Borges (ou Manuela Ferreira Leite).

No outro partido de direita que apoiou Cavaco Silva não consta haver grande actividade. Há um presidente que passa mais tempo em Bruxelas do que em Lisboa, que ganhou tal como Marques Mendes, as autárquicas e as presidenciais. De resto, temos uma direcção do partido com fieis a Ribeiro e Castro, e uma bancada parlamentar com subditos do Telmo Correia e do Portas (eleitos antes das eleições do partido). Resultado… não se passa nada!

No PCP e no BE nada de novo.

No PCTP-MRPP programa-se já as próximas eleições. Garcia Pereira como cabeça de lista para as legislativas 2009. Garcia Pereira como candidato à Câmara Municipal de Lisboa 2009. Garcia Pereira como candidato à Presidência 2011.

Assim vai o país no dia em que Café Moleskine abre as portas ao público.