quinta-feira, abril 20, 2006

Chernobyl 20 anos – Para que não esqueçamos I


Mörderisches Atom (Átomos Assassinos)

Der Spiegel, 5 de Maio, 1986

O “staff” da estação nuclear sueca de Forsmarck, localizada na costa Báltica, a norte de Estocolmo, estava prestes a mudar de turno. Eram 7:00 da manhã da passada segunda-feira quando a rotineira vistoria de segurança aos trabalhadores, à entrada do edificio do reactor da estação, produziu sinais de alarme.

O pessoal responsável pelos testes estava alerta. Usando um equipamento com a aparência de um aspirador de cozinha, eles vistoriaram os empregados da planta, e tomaram leituras da radioactividade nas paredes, nos diferentes pisos, nas cisternas de águas pluviais. Os resultados foram surpreendentes. Os contadores Geiger apitavam loucamente – mas no exterior, não nos edifícios dos reactores.

“Foi uma loucura”, diz o técnico responsável pela medições Bengt Wellman. De acordo com Wellman, onde a leitura normal seria quatro “radioactive decay units” por segundo, “nós medimos 100 por segundo”, mesmo a quatro quilómetros do reactor. O gestor da planta Karl Erik Sehlstedt activou um alarme de nível 2, avisando a população local via rádio. Ás 11:00, 800 empregados abandonaram a planta e dirigiram-se para uma pista de atletismo próxima, onde todos foram vistoriados para radiação e onde muitos tiveram de deixar os seus sapatos para trás para descontaminação e caminhar de volta a casa com os seus pés cobertos em sacos plástico. Uma hora e meia mais tarde os oficiais eram ainda incapazes de perceber o que de errado se tinha passado em Forsmark.

Mas então relatórios similares acerca de elevados níveis de radioactividade começaram a chegar vindos de quase todas as estações suecas e da vizinha Finlândia. Em alguns locais, a radiação era 10 vezes mais elevada do que a radioactividade ambiental natural. Por essa altura, os especialistas suecos sabiam que a radiação invisível and perigo silencioso estava disperso sobre o Mar Báltico numa corrente de ar de sudeste. Meteriologistas simularam os ventos dominantes dos dias anteriores e físicos analisaram o espectro das partículas radioactivas.

Finalmente, tudo apontou para a presumível fonte do aumento da radioactividade, uma planta de energia nuclear perto de Kiev, a capital da Ucrânia. Chernobyl.

Por esta altura, a população de Kiev não sabia que um inferno nuclear tinha erupto dois dias antes a menos de 100 quilómetros a norte da sua cidade. Continuaram a comprar frutos e vegetais nos mercados locais e a decorar as suas casas e ruas para a celebração anual do 1º Maio. Horrorizado, um membro da diplomacia norte-americana William J. Crowe disse aos membros do Congresso que imagens de satélite revelaram que apenas horas depois do acidente, as autoridades soviéticas permitiram que um jogo de futebol continuasse na vizinhança do reactor que se derretia. Os jogadores e espectadores não faziam a mínima ideia dos riscos aos quais estavam expostos.