domingo, abril 02, 2006

O topete de Freitas

Desde o meu post sobre este tema, à uns dias atrás, que ficamos a saber mais uns contornos sobre o caso e, especialmente, sobre a visita de Freitas ao Canadá. Como já antevíamos não há nenhuma perseguição dirigida aos portugueses, estando os serviços de emigração do país apenas a fazer os procedimentos normais relativamente a emigrantes ilegais.

Pelos vistos, rumores postos a circular por pessoas sem escrúpulos, aconselhavam os portugueses ilegais a pedirem asilo ao Canadá por serem alvo de perseguições políticas, religiosas ou sexuais. Os nossos emigrantes, sem pensarem minimamente, e mal aconselhados, “foram na cantiga”. Os nossos serviços consulares, que já sabiam do caso nada fizeram, apesar dos avisos dos representantes da comunidade portuguesa.

Sabendo de tudo isto, Freitas parte, qual cavaleiro andante em defesa dos oprimidos, rumo ao Canadá. Os ministros canadianos, o dos Negócios Estrangeiros com quem Freitas queria falar, e o da Imigração, com quem deveria querer falar, lá aceitaram receber o nosso ministro “por cortesia” mas desde logo avançando que nada iria mudar e que o governo se limitava a cumprir a sua lei, frisando que a sua lei é bem mais benévola do que a portuguesa.

Na reunião, o nosso ministro pede critérios razoáveis em situações humanitárias, numa referência ao curto prazo dado para os emigrantes deixarem o país, e usa um argumento que me deixa perplexo: “as necessidades da economia de Toronto em matéria de construção civil, que ficariam profundamente afectadas, com grave prejuízo para a economia do Canadá, se de repente os trabalhadores portugueses desse sector começassem todos a ser mandados embora".
Mas desde quando é que compete ao estado português fazer considerações sobre a economia de outro país? E que sabe Freitas disso? Sabe-o melhor que os poróprios ministros do Canadá? E, por isso, devem deixar de aplicar a lei aos portugueses e fazer uma descriminação positiva?

Conclusões da reunião… nenhumas. Os ministros canadianos lamentam o sofrimento das famílias expulas mas não abrem excepções a portugueses.

Excelentíssimo Ministro Freitas, para escutar isto bastava ter feitos umas chamadas telefónicas. Teria ficado mais barato e não teria de ouvir o advogado das famílias portuguesas dizer que “é repugnate que tenha vindo ao Canadá para dar uma lição aos canadianos”, que a sua “visita é um insulto inaceitável ao povo e Governo Canadiano e que vai prejudicar muitissimo a situação dos portugueses".

Porquê? É fácil, este governo canadiano, especialmente rígido, depois de tanto alarido, de tantas notícias nos jornais e de tanto “topete” não vai querer dar parte de fraco. O que conseguiu com a visita foi chamar ainda mais a atenção, no Canadá, para o caso dos emigrantes ilegais, o que vai ser, muito provavelmente, contraproducente para os objectivos que o guiaram ao outro lado do mundo.

Mantenho o que disse da última vez. Ao menos que sirva para averiguar porque não actuaram atempadamente e organizar o consulado criando condições para que tudo se processe da melhor forma possível. <>