quarta-feira, maio 31, 2006

Um outro olhar sob os portugueses

Não devo ser a única que, ao passear por Lisboa, vou procurando o sorriso no rosto das pessoas. Sempre me chamou a atenção o contraste que existe entra a doçura, a amabilidade e a boa educação dos portugueses e a tristeza que encontro em muitos dos seus olhares. É verdade que não se entende um país e a sua cultura, quando se passam nele alguns dias de férias ou vários anos de convívio diário, comparando-o com o que temos no nosso local de origem.

De pouco serve dizer que um português não tem a alegria e o espírito de um espanhol ou de um italiano, porque nós também não temos, na nossa forma de ser, caracterísiticas que apreciamos nos outros. Essa tristeza, esse pessimismo, esse conformismo com a vida, que têm dado azo a tantas letras de fados, fazem parte do dia-a-dia dos portugueses. Claro que seria injusto generalizar estas palavras e esquecer-me das muitas excepçoes que sempre encontramos, mas creio não me enganar ao dizer que existe uma atmosfera melancólica que contrasta com a luz que emano do céu lisboeta e a energia que ela transmite.

Há já quase cinco anos que vivo em Portugal e são poucas as cidades que me falta conhecer. As pessoas são diferentes de uma ponta do país para outra, como o são noutros locais do mundo. Mas a maioria coincide nesse conformismo que os impede, muitas vezes, de resolver os problemas com que a vida nos desafia de forma natural e contínua. Não temos remédio se não sair deles.

Quanto mais se conhece Portugal e os portugueses, maior é a sensação de impotência ao pensar numa forma de os fazer sair da crise.
Sempre pensei que com um sorriso se solucionam muitos problemas, ou pelo menos passa-se a vê-los com melhor humor. A alegria e o bulício das ruas, de que aqui temos saudades os que os conhecemos bem, seria também outra forma de encarar a vida quotidiana e, a longo prazo, mudar o rumo futuro de Portugal. Porque, afinal, é a sociedade que marca o ritmo do país e, se quiser melhorar-se, precisará de confiança em si mesma, energia e vitalidade para enfrentar os desafios do porvir.

Belén Rodrigo (em Lisboa), ABC, Madrid.
Courrier Internacional, Lisboa

Silêncios que ficam

terça-feira, maio 30, 2006

Tribunais em Portugal

Um exemplo da "funcionalidade" dos tribunais portugueses. Aqui, no Cão com pulgas.


Protecção de fontes

"Um tribunal da Califórnia considerou que os bloguers, tal como os jornalistas profissionais, têm direito a manter a confidencialidade das suas fontes de informação."

Estás a ver JM... descansa que ninguém te vai poder exigir que expliques como arranjas-te tu aquelas bonitas fotos de lingeries. Pode ficar tudo na tua privacidade, e na da tua fonte...

Sobre a Revisão do Estatuto da Carreira Docente

Não li a proposta de revisão em detalhe (nem tenho grandes intenções de o fazer), mas pelo pouco que me passou diante dos olhos algo me deixou perplexo. A avaliação de desempenho dos professores inclui factores como a taxa de abandono dos alunos e a apreciação dos pais. Não concordo com nenhum deles mas ainda poderia deixar passar em claro a taxa de abandono. Mas a apreciação dos pais?!?
Agora os pais é que sabem se um professor é bom ou não? Se alguns ainda poderão ter o bom senso de fazer um juízo imune à nota que o filhinho tem, muitos, senão a maioria, irão pura e simplesmente considerar os bons professores os que dão boas notas aos filhos e maus professores os que são "demasiado exigentes" e os que reprovam os alunos quando têm de os reprovar.

Na minha cabeça este ponto concreto da proposta não faz muito sentido... Espero que pelo menos o resto da proposta tenha alguma ponta por onde se pegue.

Os vícios dos Deputados da Nação

Nada melhor do que mais uma "ideia peregrina" dos nossos deputados para marcar o meu regresso às lides do café.
Pelos vistos os senhores deputados gostam da redondinha e então decidiram alterar a agenda dos trabalhos do Parlamento para que se possam sentar tranquilamente a ver o Portugal-México para o Mundial. Antes isso do que se baldarem todos à hora do jogo... obviamente depois de assinarem o livro de ponto!

Não me incomoda muito que vão ver o jogo. Se tiver oportunidade também eu irei dirigir-me à sala de convivio aqui da unidade dar uma (ou muitas) espreitadelas ao jogo. Aqui o JM também vai dizer ao doente que lhe aparecer à frente nas urgências, para esperar um bocadinho enquanto ele ai ver o Quaresma (ops...). Ou melhor, o JM nem sequer vai ter doentes para atender porque também eles vão deixar de pensar e sentir as suas maleitas por duas horas.
Mas a diferença é que nem eu, nem o JM, muitos menos os infelizes doentes andamos a apregoar que a situação económica do país está difícil pedindo os necessários sacrifícios, nem ninguém olha para nós como representantes da nação.

Desta vez o conteúdo não é grave como na última falta dos deputados em vésperas de fim-de-semana prolongado, mas a impressão e o exemplo que passam para o resto dos portugueses... essas, meus caros, são as mesmas... e nada boas.

PS: "
O PS foi o único partido que demonstrou algumas reticências iniciais a estas mudanças, mas "atendendo à opinião generalizada" deu o seu acordo à alteração". A opinião generalizada de quem? Dos deputados que "genericamente" deram azo à última polémica?

quinta-feira, maio 25, 2006

Timor Leste

Tantos deram a vida no passado para que o seu povo de Timor seja hoje livre. E hoje, dão a vida porquê? Pelo poder? Por vingança? Porquê? Basta, Timor já teve muitos mortos. Não precisa de mais.

terça-feira, maio 23, 2006

A Democracia de Jardim

Alberto João Jardim, no congresso do PSD

Exemplo... os órgãos do "Estado Autónomo Democrático" da Madeira. Por lá, parece que não é estranho ver o Governo Regional fazer negócios com empresas pertencentes a... governantes regionais da Madeira. Por lá a ideia de ter a mesma lei de incompatibilidades do resto do país, Açores incluído, tipifica um não normal funcionamento das instituições democráticas. Lá, na Madeira, a Democracia é perfeita. Só nós, reles continentais, é que não percebemos.

Festivaleiros


Os alemães vivem o Festival da Eurovisão da Canção de uma forma intensa, chegando ao ponto de instalarem ecrãs gigantes em algumas cidades para o acompanhamento "live" do especial acontecimento. Este ano, como no ano passado... e como em todos os anos, consideravam-se grandes candidatos à vitória. A musiquita até nem era má para um Festival. Um lenga lenga country de título "No no never" (não sei se só passa nas rádios aqui do burgo ou se é já um "hit europeu"). Pena ter sido cantado com a animação típica de um cortejo fúnebre. Não ganharam. Ficaram tristes... e chocados por terem perdido para estes encantadores jovens filandeses... Já que tive de ver tal entretenimento, pelo menos diverti-me à brava ;-)

Praticamente verdades

O PSD desdramatiza a rejeição, pela Comissao Europeia, à proposta de Marques Mendes, sobre a utilização de fundos comunitários para financiar rescisões amigáveis de funcionários públicos. "Em Bruxelas não há praticamente impossíveis", disse o vice do PSD.
É bem verdade sr Arlindo Cunha. Veja lá que o seu ex líder , Rosé Baroso (como é conhecido lá na terra das couves) até chegou a Presidente da dita Comissão...

sexta-feira, maio 12, 2006

Nao há nada que alegre o Sócrates!


Na cimeira UE - América Latina, a foto de família foi "estragada" (o termo não é meu, bem pelo contrário), por uma "boa" pacifista da Greenpeace, protestando contra a instalação de uma celulose na fronteira entre o Uruguai e a Argentina.

Mas passemos isso para segundo plano... já repararam no sorriso matreiro do Blair? O homem está pelas ruas da amargura lá pela terrinha dele, mas ao menos há algo que o anime...
E o que dizer do nosso carrancudo primeiro? Nem com as sondagens a seu favor! Oh homem, ponha um sorriso de quando em vez... não seja tão esquisito que a moçoila não está nada mal.

quinta-feira, maio 11, 2006

Um post particular

Caro "conojudo de Sevilla", fiel cliente del moleskine,

mismo qué no te guste el futbol imagino qué no te tengas acostado ayer com toda la fiesta de la vitória en la UEFA, y qué te tengas juntado a la huela roja, en las calles de la ciudad. Espero qué la dolor de cabeza de hoy no sea muy grande...

Felicidades Sevilla!

PS: Si el Barcelona gana en la próxima semana, lo intento escribir en catalán!

Conselho dos Direitos Humanos da ONU: uma falsa partida

Em Março deste ano, no âmbito de uma reforma interna, foi extinta a Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas. As razões apresentadas foram as óbvias: um total descrédito da instituição e, a incapacidade de cumprir as suas mais elementares funções e deveres.

Na base deste panorama o facto de nos últimos anos terem conseguido assento na Comissão vários dos países com piores registos em matéria de direitos humanos que, uma vez eleitos, agiram em bloco para evitar a aprovação de textos em que eram criticados.

Decidiu-se ao mesmo tempo desta extinção, a criação do sucessor Conselho dos Direitos Humanos. O propósito deste Conselho é, genericamente, o mesmo da antecessora Comissão, ou seja, dar força executiva à Assembleia para actuar contra os países incumpridores e que ao violarem sistematicamente os direitos humanos poderão ser suspensos ou verem retirados o seu lugar na ONU.

Ontem, na Assembleia Geral da ONU, foram eleitos os 47 membros desta nova Comissão. Entre eles Cuba, China, Rússia, Arábia Saudita e Paquistão. Países que sistematicamente são acusados por várias fontes independentes de violação continuada dos Direitos Humanos. Apesar dos “cuidados” na elaboração das regras de eleição dos membros, que incluíam a necessidade de maioria de votos dos membros da Assembleia, estes países acabaram eleitos.

Dada a importância, popularidade e cumplicidades destes países, era quase inevitável este desfecho, mas fica desde já visível que alguns dos alicerces desta nova casa não são os melhores.

Uma falsa partida.

Um sentido "Até já!"

O Campeonato Nacional de futebol é uma longa prova de resistência que premeia os mais regulares, os melhores e penaliza os inconsequentes, os mais fracos. Um campeonato não se decide num só jogo. É algo que se constrói (ou destrói) ao longo da temporada. Basicamente, não há campeões injustos mas também não há vitórias morais. Como se diz habitualmente: “cada um tem o que merece”.

O campeonato acabou, para meu contentamento, com o FCP campeão. Mas não é sobre o Porto que vou falar. Tão pouco dos rivais mais directos. Os pasquins da especialidade já escreveram tudo o que era possível dizer. Falo-vos do que pensei nos últimos dias.

Domingo à noite, sintonizei a televisão no canal ARD e pus o teletexto na página 663, que é como quem diz, “vamos lá ver os resultados da bola lá em casa”. Apareceram os resultados, o Sporting directamente na “Champions”, o Benfica na qualificação, e logo concluí que o Guimarães, infeliz mas previsivelmente, descia de divisão, acompanhado pelo Rio Ave. Fiquei na dúvida sobre quem seria o último “premiado”. Esperei pela classificação. Era o Belenenses, o velho Belém, a descer à Liga de Honra. Fiquei boquiaberto, surpreendido, triste.

Um campeonato não é feito apenas com o Porto, Benfica e Sporting. Tem de haver mais. Tem de haver deslocações difíceis, tem de haver bons e bonitos estádios, tem de haver derbys, tem de haver história, tem de haver emoção, tem de haver rivalidades, tem de haver espectáculo.

O próximo campeonato vai ser mais triste, independentemente de quem o ganhe, do melhor ou pior que se jogue. No próximo ano não vão haver jogos de primeira no Restelo, o estádio com a melhor panorâmica do país, não vão haver os fraticidas jogos dos azuis com o Boavista, os derbys com os vizinhos da segunda circular.

Para o ano não vão haver jogos de primeira no Afonso Henriques, estádio do europeu, não vão haver rivalidades entre Braga e Guimarães, e os adeptos do clube que move mais gente depois dos “grandes” vão fazer falta nas bancadas, já de si despidas, dos estádios da primeira Liga.

Para o ano em vez de um Guimarães-Braga, teremos um Desportivo das Aves-Gil Vicente. Em vez de um Belenenses-Boavista, um Estrela da Amadora-Paços de Ferreira.

Nada me move contra as equipas que ficaram ou subiram à primeira Liga. Se lá estão é porque o mereceram. É óbvio e claro como a água. Mas é também indiscutível vamos sentir a falta de algo. Vai ser mais pobre.

Por outro lado a Liga de Honra terá jogos de primeira J. Que regressem depressa. De preferência antes de o Espinho voltar a disputar a Liga de Honra… para nos tirar o sono já chega o Leixões.

Tigres da Costa Verde

O Sporting de Espinho sagrou-se, no passado fim-de-semana, Campeão Nacional de Voleibol. A cidade de Espinho, denominada capital nacional do voleibol, passa a ter o melhor clube nacional de todos os tempos, dado o Espinho ter passado a ser o clube com mais títulos nacionais no currículo.

Quem vos escreve estas palavras é obvia e orgulhosamente Espinhense. Espinhense de nascença. Espinhense pelo clube. Se pedirem a um Espinhense para dizer três palavras que definam a cidade, a sua terra, ele vai dizer muito provavelmente “mar”, “feira (semanal)” ou então “voleibol” (pode também dizer sardinhas, chamuças ou rissóis de camarão, mas isso é noutro contexto).

O voleibol é algo que nos é incutido desde pequenos. Quase todos os miúdos que praticam desporto na cidade acabam por, pelo menos, experimentar o voleibol nos diferentes clubes, nas escolas ou então, de o praticar nas praias durante o verão.

As escolas de formação são um autêntico viveiro. Frequentemente os finalistas dos campeonatos nacionais dos diferentes escalões são os clubes mais representativos da cidade, o Sporting de Espinho e a Académica de Espinho.

Espinho é uma cidade que parou completamente para ver os “filhos da terra” chegarem duas vezes às meias finais nos Jogos Olímpicos, e o Sporting de Espinho a vencer uma taça europeia de voleibol. Corre nas veias. É genético. É parte do povo. É irracional, eu sei, mas é mesmo assim.

Desde pequenos que vemos, conhecemos e convivemos com “as estrelas”. Uma relação que se cultiva e regenera com os anos. Ao ver a equipa que foi campeã nacional no sábado, desde o treinador aos jogadores, vejo gente da terra. O Miguel (Maia), o João (Brenha), o Sandro, o Pedrosa, o Filipe (Vitó), o Rui Pedro. Gente a quem, passando por eles na rua, não pedimos autógrafos, antes os saudamos.

Mesmo sem lá ter estado, mesmo sem jogar, mesmo sem ter visto um único minuto do campeonato, sinto que uma pequeníssima milésima deste campeonato é também minha. Irracionalmente minha. No sábado, quando recebi uma mensagem da minha irmã a dizer que tinhamos ganho, senti isso mesmo. Senti-me campeão.

Foi também o último jogo no velhinho pavilhão Joaquim Moreira da Costa Jr. Uma merecida despedida para um pavilhão com tanta história, tantas enchentes, tantas memórias, tantas alegrias e lágrimas, tantas crianças felizes, que como eu, lá passaram.

Se o Porto é o meu clube de eleição, o Espinho é o meu clube do coração, o clube de sempre, que preenche inúmeras memórias da minha juventude, e que continuará a preencher o meu futuro. Parabéns Tigres da Costa Verde.

quarta-feira, maio 10, 2006

Freitas, sempre Freitas...

Freitas "Polémico" do Amaral volta hoje a ser notícia. E tal como no sábado passado (post anterior), poucas razões existem, no meu entender, para que assim seja.
Um ministro do Governo Palestiniano, com o qual a UE cortou relações, afirmou a um jornal do seu país que se tinha encontrado com um MNE europeu. Uma notícia com o intuíto de dar esperanças a um reatamento da ajuda financeira da UE, o que se veio a concretizar hoje.
Estando Freitas de visita à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, não foi difícil chegar à conclusão de que ele era o MNE europeu em questão.

Então anda o Freitas a encontrar-se com que não deve? Explique-se lá...

Pelos vistos apenas se cruzaram num corredor e foram apresentados. Seguiu-se um educado aperto de mão. Ponto final na explicação.
Eu, pela minha parte até consigo imaginar que foi algo mais do que isto. Algo tipo:

- Prazer em conhecê-lo. Como está?
- Eu estou bem, obrigado. O nosso anfitrião é excelente.
- Sem dúvida alguma. Fui tratado como um rei.
- Mas sabe, o meu povo não está tão bem como nós. O corte das ajudas por parte da UE deixou-nos em grandes dificuldades.
- Imagino que sim. Mas ao não reconhecerem Israel não nos deixaram grandes alternativas.
- E fica insensível ao que passam os nossos empregados a quem não podemos pagar, e aos seus filhos a quem não podemos alimentar?
- Claro que não ficamos insensíveis. Estamos bem atentos. Pode estar seguro disso.
- Palavras tranquilizadoras. Que Alá esteja convosco.
- Amen.

Como seria de esperar, a guerrilha anti-Freitas do PP, desta vez coadjuvada pelo PSD, exige que Freitas vá ao Parlamento explicar o "encontro".
Mas explicar o quê? Porque deu um aperto de mão em vez de lhe apertar o pescoco? Porque foi tão educado? Porque estava no mesmo corredor do que o "inimigo"?
Senhores, o MNE anda cansado. Passa muito bem sem viagens desnecessárias. E nós, por aqui, também passamos muito bem sem politiquices e polémicas de tasca.

terça-feira, maio 09, 2006

O "cansaço" de Freitas

Uma nota introdutória para amortecer uma eventual sensação de incongruência da minha parte, que possa advir da leitura deste post. Por altura da “crise dos cartoons” é possível que alguns dos nossos clientes tenham ficado com a impressão que não gosto particularmente da personagem do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros. Enganaram-se se assim pensaram. Verdade que não nutro especial admiração por Freitas do Amaral, mas respeito o que fez e os lugares que ocupou durante a sua longa carreira política. O facto de Freitas ser tema recorrente do blogue é resultado, apenas, do homem gostar de aparecer e de ser motivo de comentários, seja porque não concordo com as suas ideias ou afirmações, seja porque mudou, mais uma vez de opinião.

Sábado de manhã fui trabalhar e, já que lá estava, aproveitei para ler o Expresso. Primeira página encabeçada logo por um título de deixar as mentes mais mordazes a babar-se por ler mais. “Freitas cansado no MNE”. Já imaginava o que iria escrever no moleskine. Algo como: “Freitas não és só tu, nós também estamos cansados de te ter no MNE” ou, “Tens problemas nas costas, tomo ozonol”.

Imprimi logo o artigo para o ler com mais atenção posteriormente. Li-o. Li-o duas vezes mais. Senti-me enganado, manipulado. A manchete do jornal Expresso é, no mínimo, exagerada e propositadamente abusiva.

A manchete foi “sacada” da resposta à pergunta “As constantes viagens, o jet lag, o avião, são cansativos para si?”.

Freitas respondeu algo tão simples quanto As viagens são um pouco cansativas, sobretudo para quem, como eu, tem problemas na coluna. Mas mais cansativo é um dia inteiro de trabalho no Ministério, das nove e meia da manhã às nove e meia da noite, constantemente a receber pessoas, a fazer telefonemas, a ler telegramas, a dar despachos, a fazer assinaturas, reuniões. Chega-se ao fim do dia completamente estoirado”.

Chegar ao final do dia cansado é o que eu espero de todos os nossos governantes. Que se esfalfem, que trabalhem. Dizer que chega cansado ao final de um dia de trabalho no Ministério é totalmente diferente de dizer, como somos induzidos a pensar dada a manchete, que está cansado de trabalhar no Ministério.

Eu também chego muitas vezes estoirado depois de um dia inteiro no laboratório, e trabalhar na Alemanha é especialmente penoso na Primavera para quem sofre de alergias como eu, mas isso não quer dizer que esteja farto do meu trabalho.

O outro ponto “pseudo-polémico” da entrevista é o facto de Freitas admitir já não ser ministro em 2007. O ponto só pode levantar celeuma a quem das duas uma: ou não leu a entrevista, ou interpreta a língua portuguesa de um modo muito diferente do meu.

Sobre uma eventual inclusão numa eventual remodelação governamental disse: Poder, posso (ser incluido). Posso ser substituido em qualquer momento, sozinho ou em companhia – isso é uma questão que depende apenas do primeiro-ministro”.

Seguiu-se a pergunta se era importante para ele estar nestas funções quando Portugal presidir a União Europeia no 2ºSemestre de 2007. Respondeu Sim e não. Sim, porque a Presidência é sempre uma experiência enriquecedora… Mas posso dizer-lhe que não seria mais importante do que outras coisas que fiz na vida…”. Daí a concluir que poderá não estar em funções em 2007 por motivos de saúde vai uma distância tremenda.

O Expresso é um jornal de referência no nosso país. É indiscutível que tem um especial acesso a notícias do interior dos aparelhos partidários e governamentais. Mas também é muitas vezes usado, pelos mesmos que lhe conferem verdadeiras “caixas”, para joguinhos políticos. De uns tempos a esta parte tem também uns certos devaneios editoriais com manchetes no minimo discutiveis, em termos éticos como o caso acima referido, como em termos de importância jornalística. Veja-se esta mesma capa da edição de sábado passado. Ficamos a saber que “Soluços atrapalham Saramago”. Importante, não acham?

O Expresso e os seus directores que tão bem criticaram os parlamentares pela sua falta de ética no processo das faltas injustificadas, deviam também olhar para o seu procedimento e ponderar um pouco antes de se mostrarem assim tão “perplexos” com a reacção de Freitas.

PS: Outro facto curioso foi a reacção dos diferentes partidos a este “incidente”. Marques Mendes sem ter lido sequer a entrevista decide não fazer comentários, mas preocupado com o estado de saúde do ministro sempre adianta que “estar cansado não é bom sinal”.

Louçã, insensível, considera que a saúde de Freitas não é motivo de debate político”. Jerónimo não se precipita a fazer comentários… apenas casca mais uma vez nas políticas do governo.

Finalmente, e como seria de esperar vindo do PP quando se fala do seu fundador, aparece Pires de Lima a autoflagelar mais um pouco o seu partido contribuindo um pouco mais para o descrédito que tem perante os portugueses, dizendo que Sócrates devia desanuviar Freitas do fardo de ser ministro. Será que ao menos leu a entrevista ou ânsia de criticar Freitas naquele partido é tão grande que até ficam cegos?

quarta-feira, maio 03, 2006

Os altos voos de um pardal

Ter ficado doente em casa depois das férias em Portugal, envolto em Zyrtec e lencos de papel, possibilitou-me ver calmamente, ainda que com os olhos semi abertos, alguns jogos das competições europeias da passada semana.
Para além da concretização da final por mim desejada para a Champions (Forca Barça!), pude confirmar aquilo que já suspeitava de umas semanas para cá. Há um real concorrente ao posto do Ricardo na selecção tuga. Não, não é o Baía. Chama-se Carlos e é o titular do Steaua de Bucareste.

Este homem que ninguém sabia quem era antes de ele ir para a Roménia, e que agora, qual marketing bem sucedido, aparece em pelo menos uma notícia por semana, encaixa em todos os pontos do perfil desenhado por Scolari para o posto de guarda-redes. Diria mais. É um Ricardo, mas com um penteado paneleirote. De resto, igualzinho: relativamente seguro entre os postes, um desastre aéreo fora deles. Tanto soco no ar. Tanto albarroar de colegas. Tanto de bolas a queimar as mãos. Tanto franzir de sobrolho dos seus defesas.

Já tinha ficado com esta ideia do Carlitos quando vi um resumo da eliminatória anterior, mas como era contra os rivais lá de Bucareste, ainda pensei que fosse por ser um derby, mas depois de ver o Middlesbrough a recuperar um 0:3 na eliminatória para um 4:3 final, com o especial contributo dos altos voos do pardal, concluí imediatamente que aqui estaria um bom nome para a vaga disponível na selecção.

Chamem-me ciníco... mas a verdade é que havia um emissário de Scolari na bancada, e não era para ver romenos, que esses nem ao Mundial vão.

terça-feira, maio 02, 2006

Primavera Alemã

A chegada da Primavera é muito mais óbvia na Alemanha. As temperaturas subiram, o gelo ainda existente derreteu, as árvores apresentam a suas novas folhas, as flores aparecem com todo o seu esplendor. Sendo um país extremamente branco no Inverno, temos agora um vivo contraste. É um espectáculo de cor... e uma excitação para a minha rinite alérgica!

Depois de umas férias para conhecer a preciosa Sofia, e mais uns dias fora devido a alergias, contipações e derivados, cá estou eu de volta... ao trabalho e ao Moleskine.

Até já!