quinta-feira, abril 20, 2006

Chernobyl 20 anos – Para que não esqueçamos I


Mörderisches Atom (Átomos Assassinos)

Der Spiegel, 5 de Maio, 1986

O “staff” da estação nuclear sueca de Forsmarck, localizada na costa Báltica, a norte de Estocolmo, estava prestes a mudar de turno. Eram 7:00 da manhã da passada segunda-feira quando a rotineira vistoria de segurança aos trabalhadores, à entrada do edificio do reactor da estação, produziu sinais de alarme.

O pessoal responsável pelos testes estava alerta. Usando um equipamento com a aparência de um aspirador de cozinha, eles vistoriaram os empregados da planta, e tomaram leituras da radioactividade nas paredes, nos diferentes pisos, nas cisternas de águas pluviais. Os resultados foram surpreendentes. Os contadores Geiger apitavam loucamente – mas no exterior, não nos edifícios dos reactores.

“Foi uma loucura”, diz o técnico responsável pela medições Bengt Wellman. De acordo com Wellman, onde a leitura normal seria quatro “radioactive decay units” por segundo, “nós medimos 100 por segundo”, mesmo a quatro quilómetros do reactor. O gestor da planta Karl Erik Sehlstedt activou um alarme de nível 2, avisando a população local via rádio. Ás 11:00, 800 empregados abandonaram a planta e dirigiram-se para uma pista de atletismo próxima, onde todos foram vistoriados para radiação e onde muitos tiveram de deixar os seus sapatos para trás para descontaminação e caminhar de volta a casa com os seus pés cobertos em sacos plástico. Uma hora e meia mais tarde os oficiais eram ainda incapazes de perceber o que de errado se tinha passado em Forsmark.

Mas então relatórios similares acerca de elevados níveis de radioactividade começaram a chegar vindos de quase todas as estações suecas e da vizinha Finlândia. Em alguns locais, a radiação era 10 vezes mais elevada do que a radioactividade ambiental natural. Por essa altura, os especialistas suecos sabiam que a radiação invisível and perigo silencioso estava disperso sobre o Mar Báltico numa corrente de ar de sudeste. Meteriologistas simularam os ventos dominantes dos dias anteriores e físicos analisaram o espectro das partículas radioactivas.

Finalmente, tudo apontou para a presumível fonte do aumento da radioactividade, uma planta de energia nuclear perto de Kiev, a capital da Ucrânia. Chernobyl.

Por esta altura, a população de Kiev não sabia que um inferno nuclear tinha erupto dois dias antes a menos de 100 quilómetros a norte da sua cidade. Continuaram a comprar frutos e vegetais nos mercados locais e a decorar as suas casas e ruas para a celebração anual do 1º Maio. Horrorizado, um membro da diplomacia norte-americana William J. Crowe disse aos membros do Congresso que imagens de satélite revelaram que apenas horas depois do acidente, as autoridades soviéticas permitiram que um jogo de futebol continuasse na vizinhança do reactor que se derretia. Os jogadores e espectadores não faziam a mínima ideia dos riscos aos quais estavam expostos.

Chernobyl, 26 de Abril, 1986

Passaram já 20 anos. Mais do que a comemoração, ou a simples lembrança, é importante não esquecer. Não esquecer o acidente. Não esquecer as consequências. Não esquecer os riscos. Não esquecer as vítimas. As que sofreram ontem, as que ainda sofrem hoje e que, infelizmente, continuarão a sofrer amanhã.

O que proponho a sócios e clientes do moleskine é uma viagem no tempo. Uma viagem ao dia do acidente, ao que se passou de seguida com os habitantes, a uma zona agora abandonada. Uma viagem aos nossos dias, em que o nuclear é notícia servida como acompanhamento dos nossos jantares. Uma viagem também ao futuro, em que Portugal poderá ter centrais nucleares e em que uma guerra atómica é uma triste, mas real, possibilidade.

A imprensa nacional e internacional tem dado especial destaque a este aniversário. O que vou tentar fazer é trazer-vos um pouco do que se tem escrito. Para que não esqueçamos.

PS: Dado entrar em férias na sexta-feira é possível que esta minha ideia não seja concretizada em consonância com o aniversário propriamente dito. De qualquer modo é uma “viagem” que quero fazer. Independentemente da data.

As baldas dos nossos deputados II

Como disse?!

"Sabiam que era véspera de começar um fim-de-semana longo e que os deputados não estariam assim tão interessados. Além disso, não era o dia habitual das votações, nem era a hora das votações.”

Narana Coissoró, antigo vice-presidente da Assembleia pelo CDS

“A comunicação social ajuda ao desprestígio do Parlamento. Perante um facto mau torná-lo muito mau é fácil. Foi mau, mas estar a dizer de vinte em vinte minutos que foi muito mau também é demais". Idem

“Quem lida com o Parlamento sabe que há determinados dias em que os acontecimentos levam as pessoas a faltarem. Por exemplo, não se pode marcar uma votação por exemplo, quando o Benfica-Barcelona estavam a jogar, ou quando há um acontecimento grande que as pessoas querem ver.” Idem

“As votações foram antecipadas um dia (de quinta para quarta-feira) em relação ao que sempre acontecesse e só aconteceram uma hora depois do previsto. É incompreensível.” Guilherme Silva, vice-presidente da Assembleia pelo CDS

“Os parlamentos de todo o mundo fecharam na Semana Santa e, em Portugal, em anos anteriores, a AR sempre interrompeu os trabalhos durante esse período. Foram os deputados que criaram a situação porque não foram capazes de assumir o encerramento da Assembleia na Semana Santa.” Idem

"Amanhã é o teste dos bronzeados". Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP

As baldas dos nossos deputados I

Sejamos sinceros. Ninguém no seu juízo perfeito, nem mesmo a mais púdica alma do nosso país, pensa que os nossos deputados e políticos são anjos ou meninos de coro. Nem eles, nem quase ninguém. Deixo o “quase” para salvaguardar as excepções que confirmam a regra. No entanto, de tempos a tempos, somos confrontados com detalhes que nos passam, normalmente, despercebidos. Seja porque estamos desatentos, seja porque nunca nos demos sequer ao trabalho de pensar ou investigar o assunto.

A falta de quórum no Parlamento que impediu, na passada semana, a votação de uma série de leis e a consequente mediatização do assunto pela imprensa nacional, pôs a descoberto algumas características mais escondidas da vida parlamentar, assim como a visão e o senso de responsabilidade que alguns dos nossos deputados têm sobre a sua própria função política.

Neste e no próximos post um resumo do que me chamou a atenção.

O actual regime de faltas dos deputados remete para o Estatuto dos Deputados os motivos de justificação aceites, mas estipula que "a palavra do deputado faz fé, não carecendo por isso de comprovativos adicionais".

O diploma retira ao Parlamento poderes de verificação das justificações apresentadas mas refere, como excepção, que "quando for invocado o motivo de doença, porém, poderá ser exigido atestado médico, caso a situação se prolongue por mais de uma semana".

O Estatuto dos Deputados considera "motivo justificado [para a falta] a doença, o casamento, a maternidade e a paternidade, o luto, missão ou trabalho parlamentar e o trabalho político ou do partido a que o deputado pertence".

O mesmo estatuto admite que "as dificuldades de transporte" podem ser consideradas e que "poderá ainda considerar-se motivo justificado a participação, autorizada nos termos regimentais, em reuniões de organismos internacionais".

Ficamos também a saber que "o regimento admite que haja contagens a todo o momento e só explicitamente diz que há falta quando não há quórum".

Ou seja, os senhores deputados são pessoas honradas, cuja palavra deve ser aceite como verdade absoluta, não sendo para isso necessário qualquer tipo de justificativo, com excepção de estarem doentes. Não é que se duvide da sua justificação, é apenas uma preocupação do Parlamento para com o seu estado de saúde e para se certificar que o senhor deputado está a ser bem atendido pelo SNS.

O excelsso e honrado deputado não mente pelo que ninguém vai suspeitar se disser que esteve em trabalho político analisando as condições dos habitantes da “Alta de Lisboa” ou do “Parque das Nações”. Nem tão pouco, se der a justificação de estar a reforçar as relações diplomáticas entre Portugal e a República Dominicana. Ou as Seychelles.

No caso concreto da passada quarta-feira, em que assinaram o ponto mas não chegaram a sentar o seu honrado traseiro no Parlamento, imagino que a justificação tenha sido “a dificuldade de transporte”. Seguramente que o honesto e educado deputado, ao ver o sinal de piso escorragadio após limparem os corredores do Parlamento, se sentiu na obrigação de não pisar e sujar a mármore húmida. Quando finalmente o chão secou, a votação já tinha sido cancelada. Longe de nós pensar que o humilde deputado teve “a lata” de assinar o livro de ponto e depois faltar aos trabalhos parlamentares.

quarta-feira, abril 19, 2006

Lisboa 1506

terça-feira, abril 18, 2006

A Bíblia de Barro


Acabei de ler durante o muito prolongado fim-de-semana de Páscoa alemão - ainda assim não tão longo como o dos nossos deputados, mas incluindo igualmente a segunda-feira - o livro de Júlia Navarro, "A Bíblia de Barro" (título original que suponho ser mantido em português, o que não ocorre na tradução alemã).

Júlia Navarro é, antes demais, uma jornalista, e esse facto torna-se evidente na abordagem e em algumas personagens do seu "thriller". Conseguiu criar um muito bom enredo que mistura arqueologia, religião, a guerra do Iraque, tocando ainda na II Guerra Mundial e expandindo a sua estória aos EUA, Europa e Egipto.

Sendo uma autora espanhola digamos que "es un livro entretenido".
Li o livro em castelhano e sei que tem tradução em inglês e alemão, pelo que imagino que também o possam encontrar na nossa língua. A ler, especialmente agora que algo semelhante poderá ocorrer no vizinho Irão.

sexta-feira, abril 14, 2006

Tenham Vergonha!!

«Acho lamentável que o partido da maioria não assegure o quórum, principalmente quando estão em causa um conjunto de votações de iniciativas da parte do Governo»
Marques Guedes, líder parlamentar do PSD (que não tinha no hemiciclo 50 dos seus 75 deputados), Público On-line, 13/4/06

«Existe um dever constitucional de todos os deputados de estarem no plenário a participarem nas votações. É um dever que é de todos os deputados, de todos os partidos, não apenas do partido da maioria»
Vitalino Canas, porta-voz do PS, Público On-line, 13/4/06

Ao menos tenham um pouco de vergonha na cara e fiquem calados. Nada do que poder
ão dizer vos vai justificar e desculpar perante a generalidade dos portugueses. Aproveitem as férias, e que vos chova em cima...

quinta-feira, abril 13, 2006

Samuel Beckett

Nas portas do café moleskine citamos Samuel Beckett. Faria hoje 100 anos o "homem que revolucionou o teatro". No Público de hoje uma boa reportagem sobre o escritor irlandês.

Os Deputados da Nação

Todos os deputados, sem excepção, exercem a sua função na Assembleia da República porque os portugueses, através do seu voto, os puseram lá. E deles merecem respeito, exigindo que defendam os ideais e as regiões pelos quais foram eleitos. Não só é um dever da sua função parlamentar, como também um dever cívico e de respeito pela Nação que lhes paga.

O facto de, mais uma vez, terem ficado votações de leis por fazer por ausência de quórum no parlamento é vergonhoso para o país, mas especialmente para os deputados, que insistem em descredibilizar ainda mais a política portuguesa.

Eu até posso aceitar que os deputados tirem as suas férias quando bem lhes apetece, apesar de haver períodos definidos para férias parlamentares. Não são menos que os outros. Mas não podemos aceitar, de forma alguma, que os deputados se armem em chico espertos, assinem pela manhã o livro de ponto e vão às suas retemperadoras fériazinhas logo de seguida.

Para quem sistematicamente pede esforços e sacrificios ao povo que lhes paga, queixando-se da falta de produtividade e eficiência dos portugueses, é triste que não sejam capazes de dar o exemplo nem de pelo menos aparentar fazer aquilo que lhe é pedido.


Nasceu a Sofia

Para grande alegria da família, e 28 anos e meio depois do nascimento do último membro da família - moi même - nasceu ontem a Sofia, minha sobrinha e filha aqui do sócio MAG.
Nao me vou alongar muito... deixo isso para o pai babado, quando arranjar um pouco de tempo entre as fraldas e os biberões. Entretanto posso dizer que estão todos de boa saúde e que a bébé chorou muito quando finalmente nasceu... o que não me surpreende, dado ter visto imediatamente a fronha do MAG.

Como devem imaginar as minhas felicita
ções seguiram por outras vias mais pessoais do que o blogue, mas não queria deixar de partilhar com todos os nossos clientes a felicidade do momento que presentemente vivemos.

É um dia especial para nós, é um dia especial também para o moleskine. Portanto, os cafés s
ão hoje de borla. Paga o JM.

quarta-feira, abril 12, 2006

Fortaleza Digital de Dan Brown

Dan Brown, depois de se livrar de uma acusação de plágio, relativa ao seu mais que aclamado "Código Da Vinci", chega agora a Portugal com "Fortaleza Digital". Este foi o seu primeiro livro, editado em 1998.

Poderão, desde já, ler nas críticas que é um "tecno-thriller, onde Dan Brown explora a fronteira obscura entre a liberdade pessoal e a segurança nacional" e que "é assustadoramente real, cheio de honra e de desonra, paixão e convicção, vida e morte, o amor a um país e a conclusão inevitável a que cada um de nós chega intimamente: a complexa simplicidade do que está certo e do que está erra do e o poder do amor são as únicas fontes da nossa esperança".

Palavras bonitas, sem dúvida, mas desde já fica a minha opinião sobre o livro, que tive a oportunidade de ler em inglês... é interessante a princípio, mas atira um pouco para o "booooring". Digamos que era Dan Brown a dar os seus primeiros passos. A investigação e o suspense de "Código Da Vinci" estão lá a pairar, mas ainda lhe faltava qualquer coisa. Digamos que é um muito bom primeiro livro... o problema é que todos lemos o seu melhor livro antes e agora ficamos um pouco desapontados quando um livro dele não atinge o mesmo nível... mesmo que seja mais antigo. É injusto, eu sei, mas que posso eu fazer!

terça-feira, abril 11, 2006

Eleições Italianas


Perante estes resultados, Prodi será eleito primeiro-ministro italiano. O curioso é que o sistema eleitoral da República Italiana proporciona a possibilidade do candidato mais votado não ser o vencedor. O mesmo que se passou com Bush anos atrás, nos Estados Unidos.
A coligação de Berlusconi obteve a maioria dos votos para o Senado, mas terá menos 2 senadores do que a coligação de Prodi. Por outro lado, a diferença miníma de 0,1%, correspondente a 25 000 votos, para a Câmara dos Deputados, confere automaticamente o direiro a 341 lugares para a coligação vencedora. Enfim, complicados italianos.

Sobre o resultado em si, e às suas consequências futuras, ainda é bastante cedo para comentar. Será, certamente, uma nova maneira de fazer política e de governar o país. Contudo não será fácil fazer regressar a economia italiana ao fulgor da década de 90. Além da coesão da coligação de esquerda ser considerada fraca - o que levou à derrocada do governo de Prodi e consequente ascensão de Berlusconi - em que são públicas as divergências programáticas, também devem contar com o derrotado Berlusconi. Não creio que irá desaparecer e recolher a uma vida recatada. Bem pelo contrário. Para já quer a recontagem dos votos. Mesmo que a sua derrota seja confirmada, como se prevê, Berlusconi, dono das 3 estações privadas de televisão, e com uma influência impressionante em toda a sociedade, será uma oposição de peso. Sem limites. Á sua imagem.

Avanti Itália!

Era o CPE assim tão mau?

Tenho acompanhado com alguma atenção o muito que se tem escrito sobre o Contracto Primeiro Emprego (CPE), em França, e o tema está na minha “agenda” há já algum tempo. A decisão de ontem, por parte Villepin e Chirac, de retirar o CPE, após 10 semanas de protestos, greves e manifestações, veio dar o impulso que faltava para que tentasse responder à pergunta inicial.

Para compreender a iniciativa de Villepin, é importante perceber a situação actual de um imenso número de jovens em França. A maior preocupação e problema dos jovens franceses é, sem dúvida, o desemprego. O que no caso dos jovens filhos de emigrantes muçulmanos e africanos, toma uma dimensão ainda maior dado serem alvos de descriminação por parte dos empregadores.

Depois das manifestações violentas de há alguns meses atrás, causados por jovens desempregados, habitantes de bairros socias degradados, sem um projecto para as suas vidas, foi prometido que o Governo iria fazer algo por estes jovens, para que o seu acesso a empregos fosse incentivado. Este CPE vem, em minha opinião, muito na sequência desses motins.

Estes jovens são, em parte, pessoas sem grande formação, que saltitam entre a situação de desempregados e um McEmprego de curta duração, que não lhes dá qualquer tipo de garantias.

O outro grupo alvo deste CPE, são os estudantes universitários que ao terminarem os seus cursos deparam com grandes dificuldades para entrarem no mercado de trabalho, dado que também a eles lhes falta experiência.

O outro lado do desemprego é a atitude e a estratégia dos empregadores. Para o bem e para o mal vivemos num mundo capitalista, em que o lucro e a rentabilização são forças motoras das empresas, da sociedade. Do ponto de vista de um patrão, ao procurar um novo empregado, o melhor candidato será aquele com melhor experiência, que não necessite de grande formação e que rentabilize o investimento no seu ordenado o mais depressa possível. Em França, dadas as rígidas leis de protecção aos empregados, fruto da força e influência dos sindicatos, torna-se muito dificil despedir quem quer que seja. Perante este facto, os empregadores tendem a correr o menor risco possível nas suas aquisições.

Porque razão hão-de eles contratar alguém sem experiência, alguém em quem não confiam, alguém que não lhes assegure uma boa execução do trabalho? Porque vão eles correr o risco de contratar alguém que depois não podem despedir facilmente? Porque vão eles dar emprego a jovens recém-licenciados que mal sabem o que estudaram? Este é o real drama do desemprego francês. A força dos contratos laborais em França é “um paus de dois bicos”. Se por um lado confere uma real segurança dos trabalhadores, por outro diminui as possibilidades de criar novos empregos, ou melhor, de criar empregos a jovens sem real experiência de trabalho.

O CPE não era perfeito. O CPE não criava, per se, postos de trabalho. Mas não é ao Estado que confere a responsabilidade de criar empregos privados. Mas confere-lhe a responsabilidade de tentar dar condições para a criação desses empregos. O CPE entrava exactamente neste ponto. Ao criar o CPE, permitindo o despedimento, sem justificação, nos primeiros dois anos de contrato, numa primeira versão, ou depois de um ano, na segunda versão, Villepin pretendia passar uma mensagem aos empresários – “deêm mais oportunidades aos jovens, deêm-lhes formação profissional. Se não corresponderem às vossas expectativas, podem despedi-los sem prejuízo maior para as vossas empresas. Invistam no vosso futuro”.

Claro que não podemos ser cínicos. Não era um panorama idílico. Saber que se pode ser despedido a qualquer momento, ou que ao final de dois anos estão no desemprego novamente. Mas seria, na minha humilde opinião, melhor do que a situação actual em que nem emprego têm. Pelo menos, ao final dos dois anos, teriam mais formação do que actualmente, o que lhes poderia abrir outras portas.

Também nós, em Portugal, temos algo semelhante com os estágios profissionais, com duração de 9 meses em que o ordenado é dividido entre a entidade empregador e o Estado. Nada garante que passado esse período sejam incorporados, mas pelo menos têm uma formação profissional certificada.

O que falhou em todo este processo foi a forma como Villepin levou a cabo a implementação da lei. Ele fez-la sozinho, não a discutiu com o seu grupo parlamentar, quase que não a discutiu no parlamento e, especialmente, não cumpriu uma regra de ouro em leis laborais, em França particularmente, que foi não discutir a lei com os parceiros sociais, comprando logo aí, independentemente do conteúdo da lei, uma guerra com os sindicatos. O posicionamento táctico de Sarkosy, em pré-corrida com Villepin, para as presidenciais de 2007 e a “Guterresização” de Chirac, fizeram o resto.

O CPE não era a solução para todos os males, bem longe disso, mas não era assim tão mau…

sábado, abril 08, 2006

Adriaanse, não te esqueças....

O jogo não é decisivo. Boa sorte!

sexta-feira, abril 07, 2006

500 anos: O massacre de Lisboa

Von dem Christeliche / Streyt, kürtzlich geschehe / jm. M.CCCCC.vj Jar zu Lissbona / ein haubt stat in Portigal zwischen en christen und newen chri / sten oder juden , von wegen des gecreutzigisten [sic] got.” (“Da Contenda Cristã, que Recentemente Teve Lugar em Lisboa, Capital de Portugal, Entre Cristãos e Cristãos-Novos ou Judeus, Por Causa do Deus Crucificado”)

Imagem, legenda e texto retirados da Rua da Judiaria.
No blog podem ainda encontrar vários testemunhos de, entre outros, Alexandre Herculano, Damião de Góis e Garcia de Resende sobre o que se passou nesses dias em Lisboa.

1506-2006

Vai fazer exactamente 500 anos, nos dias 19, 20 e 21 de Abril, que um cataclismo se abateu sobre Lisboa. A alma da Capital do Império sofreu um abalo tão grande – senão mesmo maior – quanto aquele que a haveria de destruir em 1755. Durante três dias, em nome de um fanatismo sanguinário, mais de 4 mil pessoas perderam a vida numa matança sem precedentes em Portugal.
Como vozes que teimam em emergir de entre as poeiras da História, cronistas como Damião de Góis e Samuel Usque deixaram relatos detalhados dos motins sangrentos. Contam os testemunhos que tudo terá começado na Baixa, no dia 19 de Abril de 1506, um domingo, na Igreja de São Domingos, quando alguém gritou ter visto o rosto do Cristo crucificado iluminar-se inexplicavelmente no altar. Em redor, gente que rezava pelo fim da seca prolongada que grassava pelo país clamou que era milagre. Entre eles, um judeu convertido à força terá tentado explicar que a luz que emanava do crucifixo era apenas um reflexo de um raio de sol que entrava por uma fresta. Terão sido as suas últimas palavras. Arrastado para a rua, o marrano e um irmão seu foram espancados até à morte. Os seus corpos mutilados foram arrastados para o Rossio e queimados em frente dos Estaus – onde décadas depois foi instalada a Inquisição. Eles eram apenas os primeiros de entre mais de 4 mil mortos – anussim, judeus portugueses, homens, mulheres e crianças, assassinados em três dias sangrentos.
Incitada por frades dominicanos, a multidão que entretanto se aglomerara decide partir em direcção da Judiaria, gritando “morte aos judeus” e “morram os hereges”. As incompreensíveis cenas de violência que se deram a seguir fazem parte de um pedaço da história de Portugal que a História resolveu esquecer. Conto voltar ao tema e às descrições desta tragédia de há 500 anos. Por agora, queria apenas deixar um apelo. Em Portugal comemoram-se há muito os grandes feitos da História, testemunhos quase sebastianistas de uma grandeza perdida. Que não se esqueça também a desgraça que prova ser mito a velha máxima do tal “povo de brandos costumes”.

Afinal Judas não era "falso como Judas"

No início da semana tivemos a notícia que provavelmente Jesus Cristo não deverá ter caminhado sobre o Mar da Galileia, como vem descrito na Biblia, mas sim sobre gelo ("Spring ice"?!)

Hoje, temos a descoberta do exemplar uníco do Evangelho segundo Judas. Sim, esse mesmo, que todos consideram um traidor, que invocamos na expressão "falso como Judas", que vem em todos os outros Evangelhos como o apóstolo que entregou Jesus Cristo aos romanos, e que assim é representado em tantos filmes e obras literárias.
Que diz este Evangelho? Que tudo o que aprendemos na catequese não é exactamente verdade. Que a sua traição foi o culminar de um plano divino. Por outras palavras, que Judas seguiu apenas as ordens do seu Mestre. Vem por em causa tudo o que foi dito e feito anteriormente e que atrás referi.

Que podemos fazer para que os filmes não fiquem desactualizados, para que a nossa língua não fique privada de uma das suas mais famosas expressões?
É fácil. Fazemos como a outra autora que n
ão podemos dizer o nome e interpomos uma providência cautelar.

quinta-feira, abril 06, 2006

H5N1 chega ao Reino Unido

Diz a lenda que a Monarquia Britânica cairá no dia em que não houver um único corvo na Torre de Londres. Os ingleses, supersticiosos ou não, decidem não arriscar e cortam as asas a vários corvos que se passeiam nos jardins, procurando assim assegurar a perpetuação da coroa...

Agora com a chegada ao Reino Unido do vírus H5N1, teme-se pela saúde de várias espécies de aves, especialmente a dos corvos... e da Camila também :-)

"Águias" voltam à terra

O conto de fadas acabou. Com um triste fim. De modo algum inesperado. Agora que muito voltam a ter os pés no chão, e que o descernimento regressa aos poucos deixem-me que vos pergunte umas coisas:

- Estavam assim tantos tão convencidos, como Luís Filipe Vieira, que o Benfica poderia ser campeão europeu quando apresenta no onze titular jogadores como Beto, que perde incontáveis bolas no meio campo tornando-se o primeiro atacante dos adversários?; como Ricardo Rocha que aguentou apenas 20 minutos de Ronaldinho?; como Anderson e Leo que não sabiam o que fazer quando as "estrelas" lhe apareciam pela frente?; como Petit?.

- Acreditaram mesmo que as palavras de Deco, dizendo que a defesa do Benfica era uma das melhores da Europa, eram mesmo para levar à letra, em vez de uma simpática atenção relativa aos campeões do seu país?

- Acham mesmo que foi porque o árbitro fez um "jogo habilidoso" e que "foi oferecido ao Barcelona" (palavras de Koeman) que o Benfica foi impossibilitado de vencer?

Sejamos honestos e verdadeiros. O Barcelona foi melhor que o Benfica ontem. Foi muito melhor que o Benfica a semana passada. Como disse depois do jogo da primeira mão, o Benfica só teria hipóteses de passar se tivesse muita sorte e com um mau jogo do Barcelona. O Barcelona não jogou nada de especial e o Benfica teve, em 70 minutos de jogo em que tinha de recuperar, dois remates à baliza. Muito pouco. Assim, nem a sorte poderia valer de alguma coisa.

No entanto, não há motivos para tristezas. Muito menos para estarem envergonhados. Perderam com a melhor equipa da actualidade que, assim o espero, poderá vencer a Liga este ano. E não com o Artmedia. Ou o Rangers.

Mas, de uma vez por todas, as equipas portuguesas, especialmente os seus treinadores e dirigentes devem deixar de procurar os motivos das suas desilusões em casa alheia (árbitros e o "sistema"). Para mais quando o desnível foi tão evidente.

quarta-feira, abril 05, 2006

Dilema no Barça - Benfica

O meu sentido patriótico e de desportivismo leva-me a apoiar o Benfica esta noite. Os 140€ que a betandwin me terá de me dar se o Barcelona vencer equilibram a balança novamente. Com o galo que às vezes tenho, vão empatar 0:0 e o Barcelona vai passar... enfim, amanhã falamos.

PS: Se estão a pensar que se apostei no Barcelona é porque não tenho fé nenhuma na vitória dos lampiões... estão certíssimos.

Berlusconi e Prodi, como se divertem

Para quem nos visita regularmente sabe que tenho acompanhado com "especial interesse" a campanha eleitoral para as legislativas italianas. Se a política italiana me interessa especialmente? Nem por isso. Decididamente não. Mas acompanhar a campanha trauliteira da coligação de direita encabeçada por Berlusconi e a da não menos peculiar coligação de Prodi (esquerda) faz-me pensar que é possível ter políticos bem piores que os nossos.
Mas bem mais divertidos, diga-se de passagem.

Depois de se ter comparado, entre outros,a Cristo, dado "sofrer pelos outros", temos Berlusconi a entrar na última semana em desvantagem nas sondagens. Táctica para inverter as coisas? Aqui vai um resumo das últimas de Berlusconi e também de Prodi:

Berlusconi:
- "É verdade que os comunistas não comiam criancinhas, mas vem no livro vermelho de Mao, que as ferviam e depois usavam-nas para adubar os campos"

- "Sim. Ligo para sex lines. Gosto de perguntar às jovens meninas o que acham das minhas políticas. E se me preferem a mim ou a Prodi. Sete em nove disseram que me preferem, o que são realmente muito boas notícias".

Esta mereceu o comentário da oposição: "essas mulheres dizem qualquer coisa para satisfazer os homens deseperados que lhe ligam".

- "Tenho muitas estima pela inteligência dos italianos para pensar que haja por aí tantos "tomates" (i.e. estúpidos) que possam votar contra os seus interesses. Até Prodi vai votar em mim." Depois pediu desculpa "não pelo insulto mas pela linguagem baixa, mas eficaz", que utilizou.

No ultimo debate entre ambos:

Prodi: "Berlusconi agarra-se aos números como os bêbados aos postes"
Berlusconi: "Respeite o chefe de estado. Você é um idiota útil"

Não dá para percerber se algum deles sabe o que fazer com o país, mas lá que se divertem...

terça-feira, abril 04, 2006

Carta aberta a Co Adriaanse

Caríssimo mister,

escrevo-lhe esta carta como fiel adepto do FCP e do seu trabalho (cof, cof… perdoe-me, catarro). Sou, portanto, e modéstia à parte, alguém em quem pode confiar e cujas palavras são sempre no sentido de ajudar o clube, que tanto gostamos, a chegar onde se propõe. Ao título, à vitória, à taça.

Escrevo-lhe para alertá-lo que coisas estranhas irão suceder nesta semana que antecede a visita do FC Porto a Alvalade. Coisas que, certamente, não ocorrem nesse belo pais das túlipas de onde é originário.

Durante esta semana vai poder ler nos diferentes jornais desportivos, particularmente nos de Lisboa, títulos de noticias que têm como objectivo deturpar a verdade dos factos e, com isso, influenciar a sua abordagem ao jogo. Passo a explicar.

Mesmo com o seu paupérrimo português será fácil descrutinar títulos como “Duelo de Gigantes”, “Combate de Titãs”, “Hora H”, “O Jogo do Título”, ou mais grave “O Jogo de Todas as DECISÕES”. É mentira. Falácia. Peta. Estratagemas alfacinhas para fazerem-lhe crer que este Porto-Sporting é um jogo decisivo. O que é totalmente falso. Decisivo foi pô-los fora da Taça de Portugal. Este jogo, é apenas mais um jogo. Tal como foi o desta semana contra o Gil Vicente, como foi anteriormente com o Paços de Ferreira e o Nacional. Apenas mais um jogo de campeonato. Nada decisivo.

Provavelmente, estará a perguntar porque o querem enganar. Sem entrar em grandes detalhes dou-lhe duas respostas. Uma é simplesmente económica. Com três jornais desportivos diários é necessário títulos bombásticos para vender mais do que a concorrência. A outra, é porque não gostam de si. Não, não fique triste. Não é nada pessoal, é apenas porque é treinador do Porto. Aquelas mentes maquivélicas, pensam que se o convencerem que este jogo é decisivo, que não é, como já lhe expliquei, você vai montar uma estratégia surpresa, com uma equipa daquelas que não lembra ao diabo e que inclui o Bruno Alves a central e o Cech a organizador de jogo. Já sei que o Cech jogou bem este domingo e que até marcou um golo mas o facto de sair a lotaria numa semana torna mais dificil que se repita na semana seguinte, portanto nada de experiências, ponha o Cech no banco e o Lucho no lugar dele… não vale a pena dar grandes largas à sua imaginação… porque apesar de tudo, não é um jogo decisivo.

Depois de um merecido dia de descanso, começa hoje a preparação para o jogo. Também os seus jogadores vão ler os jornais e eles, como percebem bem melhor a língua de Camões (sabe ao menos quem foi Camões?) vão perceber a insinuação que você, como treinador, não é capaz de montar uma equipa que vença um jogo decisivo. E isso, juntamente com os títulos que acima referi, pode influenciar o desempenho deles no sábado. Por isso, esta manhã quando chegar a hora da palestra faça uma terapia de grupo. Ponham-se todos em círculo e dêem as mãos. Todos juntos digam “este não é um jogo decisivo, este não é um jogo decisivo, este não é….”. Repita o procedimento todos os dias, inclusivé antes de entrar em campo. Verá que tudo correrá como um qualquer jogo do FC Porto… que não seja decisivo.

Abraço flamejante

RPG

PS: Depois do jogo, que não é decisivo, pergunte a alguém o que quer dizer o ditado “Uma mentira repetida muitas vezes, transforma-se em verdade”

Os arejados alemães

As temperaturas dos últimos dias passaram a ter dois dígitos… positivos! É a primavera que chega, devagarinho, mas já se faz sentir. Depois de toda a neve e frio dos últimos meses, os alemães anseiam por estas temperaturas, pelos primeiros raios de sol que não são filtrados pelas nuvens, pela oportunidade de beber a sua pils, ou a sua bock, sentaditos na esplanada com a fronha a tostar.

Neste fim-de-semana já foi possível ver as senhoras com as calças apenas pela coxa, outras com saias pelo joelho, apenas uma blusa ou um casaquito de malha, decotes a fazer lembrar o verão nas Ramblas. Há também rapazes que já arriscam uns calções e uma t-shirt. As sandálias começam a estar na moda. Os pais, para alívio das crianças, deixam-nas andar na rua sem aquelas roupas que nem permitem que se lhes veja a cara, põem creme protector na cara dos míudos, e apresentam aquele sorriso de primavera. Tudo isto é um bonito e idílico espectáculo. Tudo isto porque estão 11ºC. Imaginem o que será quando PARAR DE CHOVER!!!

2 meses depois um novo “sócio”

O moleskine faz hoje 2 meses de vida. Ainda é cedo para fazer qualquer tipo de balanço ou para dizer se tem correspondido,ou não, às nossas expectativas. No entanto uma coisa é clara… este projecto tem-me dado um enorme gozo, mas por razões várias, pessoais e de trabalho, o blogue não tem tido a actividade que pretendemos. Também por isso decidimos alargar a nossa “sociedade” a mais um colaborador. Neste caso, o meu mano.

O MAG que à dois meses atrás acho que nem sabia o que era um blogue, mostrou-se interessado em participar. Eu, confesso, fiquei surpreendido, mas ao mesmo tempo bastante contente e muito orgulhoso de poder contar, aqui no café, com alguém com as convicções e a “lábia” dele. Como sucede com os fundadores, não impusemos ao MAG qualquer tipo de guião pelo qual se tenha de seguir, e muito menos temas que deva abordar. Será da sua total vontade e responsabilidade. Aqui só nos reservamos o direito de discordar. Tenho alguma ideia do que ele poderá trazer de novo ao café moleskine, mas não o vou partilhar. Ficarei à espera, como todos vocês.

A entrada do MAG não põe em causa, de modo algum, os outros dois convites feitos anteriormente. As portas continuam abertas para quando a vossa vontade e disponibilidade vos leve a tomar a decisão que tanto ansiamos.

Entretanto fiquem bem e voltem sempre. O moleskine tem sempre as portas abertas.

segunda-feira, abril 03, 2006

Couves e Alforrecas

João Pedro George escreveu um livro intitulado "Couves e Alforrecas, os segredos da escrita de Margarida Rebelo Pinto", em que faz uma "crítica literária" aos livros da autora e em que conclui que a escritora se autoplagia de livro para livro. A escritora não gostou e interpôs uma providência cautelar para impedir que o livro seja posto à venda, dado que "utiliza o nome da escritora com o claro intuíto de ganhar dinheiro com o nome e o trabalho dos outros".

Basicamente o nome da autora, qual marca registrada, não pode ser usado, razão pela qual não o escrevo aqui (apenas mencionei o título do livro), não vá o café moleskine ser alvo de um qualquer embargo.

Um sorriso de incredulidade e pasmo decora a minha face, por várias razões. Primeiro porque a presunçosa escritora se tem em muito boa conta, segundo porque o título do livro "couves e alforrecas" é brilhantemente atribuído ao tema em questão, terceiro porque "crítica literária" supõe que se esteja a criticar literatura... e, principalmente, a quarta razão, porque houve alguém com paciência, coragem e muito tempo livre, sem nada de útil para fazer, que se tenha dedicado a esta empreitada!

domingo, abril 02, 2006

Sporting da Horta

É sempre motivo de orgulho para os amantes de desporto em particular, mas também para todos os portugueses em geral, quando uma equipa portuguesa chega à final de uma competição europeia. Um orgulho misturado com admiração e surpresa é o que sinto com a chegada do Sporting da Horta à final da Taca Challenge em Andebol.

Tal como o Sp.Espinho à alguns anos atrás com o Voleibol, e o ABC de Braga por duas vezes no Andebol, vemos pequenas equipas portuguesas a fazerem sensação lá fora em modalidades que não são tradicionalmente motivo para grandes alegrias.

O caso do Sp. Horta é ainda mais especial. Vem de lá longe, dos Açores, que muitas vezes até nos esquecemos que existe. A Ilha do Faial seguramente estará em festa. O Continente eventualmente, dado que não foi nenhum dos três grandes, nem se deu conta. Aqui fica portanto o nosso agradecimento por este feito e os votos de uma grande final.

Os Açores merecem.

O topete de Freitas

Desde o meu post sobre este tema, à uns dias atrás, que ficamos a saber mais uns contornos sobre o caso e, especialmente, sobre a visita de Freitas ao Canadá. Como já antevíamos não há nenhuma perseguição dirigida aos portugueses, estando os serviços de emigração do país apenas a fazer os procedimentos normais relativamente a emigrantes ilegais.

Pelos vistos, rumores postos a circular por pessoas sem escrúpulos, aconselhavam os portugueses ilegais a pedirem asilo ao Canadá por serem alvo de perseguições políticas, religiosas ou sexuais. Os nossos emigrantes, sem pensarem minimamente, e mal aconselhados, “foram na cantiga”. Os nossos serviços consulares, que já sabiam do caso nada fizeram, apesar dos avisos dos representantes da comunidade portuguesa.

Sabendo de tudo isto, Freitas parte, qual cavaleiro andante em defesa dos oprimidos, rumo ao Canadá. Os ministros canadianos, o dos Negócios Estrangeiros com quem Freitas queria falar, e o da Imigração, com quem deveria querer falar, lá aceitaram receber o nosso ministro “por cortesia” mas desde logo avançando que nada iria mudar e que o governo se limitava a cumprir a sua lei, frisando que a sua lei é bem mais benévola do que a portuguesa.

Na reunião, o nosso ministro pede critérios razoáveis em situações humanitárias, numa referência ao curto prazo dado para os emigrantes deixarem o país, e usa um argumento que me deixa perplexo: “as necessidades da economia de Toronto em matéria de construção civil, que ficariam profundamente afectadas, com grave prejuízo para a economia do Canadá, se de repente os trabalhadores portugueses desse sector começassem todos a ser mandados embora".
Mas desde quando é que compete ao estado português fazer considerações sobre a economia de outro país? E que sabe Freitas disso? Sabe-o melhor que os poróprios ministros do Canadá? E, por isso, devem deixar de aplicar a lei aos portugueses e fazer uma descriminação positiva?

Conclusões da reunião… nenhumas. Os ministros canadianos lamentam o sofrimento das famílias expulas mas não abrem excepções a portugueses.

Excelentíssimo Ministro Freitas, para escutar isto bastava ter feitos umas chamadas telefónicas. Teria ficado mais barato e não teria de ouvir o advogado das famílias portuguesas dizer que “é repugnate que tenha vindo ao Canadá para dar uma lição aos canadianos”, que a sua “visita é um insulto inaceitável ao povo e Governo Canadiano e que vai prejudicar muitissimo a situação dos portugueses".

Porquê? É fácil, este governo canadiano, especialmente rígido, depois de tanto alarido, de tantas notícias nos jornais e de tanto “topete” não vai querer dar parte de fraco. O que conseguiu com a visita foi chamar ainda mais a atenção, no Canadá, para o caso dos emigrantes ilegais, o que vai ser, muito provavelmente, contraproducente para os objectivos que o guiaram ao outro lado do mundo.

Mantenho o que disse da última vez. Ao menos que sirva para averiguar porque não actuaram atempadamente e organizar o consulado criando condições para que tudo se processe da melhor forma possível. <>